Por Thiago A. Morgan.

O bairro de Paraisópolis é um caso emblemático por carregar na sua história dois emblemas que ilustram bem a situação urbana brasileira: desigualdade de renda e a surpreendente proximidade entre essas duas realidades. Vemos que os problemas vão além das questões quanto a renda média de cada bairro, mas também um problema jurídico que ajuda a agravar ainda mais essas condições.

Exigir do poder público um correto, legítimo e confiável registro de propriedade para essas famílias, seria como um reconhecimento de que essa situação existe, não pode ser ignorada e deve ser cobrada como uma reivindicação social. O registro de propriedade significaria uma possibilidade real de melhoria da infraestrutura urbana nos bairros nessas condições, uma vez que concluído os devidos registros, surge a necessidade de urbanização de acordo com os padrões impostos nos planos diretores de cada cidade, planejamento de políticas públicos de longo prazo, enfim, colocaria as favelas no mapa urbano legitimamente. As famílias terão motivos legítimos para exigir melhorias da autoridade pública.

Primeiramente, a comunidade é internacionalmente conhecida graças a foto abaixo, que marca exatamente o contraste de desigualdade de renda característico no Brasil. A imagem já se tornou um clichê e a sua escolha não foi por acaso. Muitas das comunidades nos grandes centros urbanos brasileiros seguiram a mesma lógica de ocupação. Não é raro observar condomínios de luxo disputando espaço com ocupações irregulares, que futuramente se tornam favelas.

Paraisópolis

Paraisópolis

Um pouco da história da comunidade

Inicialmente, em 1921 o terreno foi loteado para a construção de imóveis de luxo, resultado do loteamento da Antiga Fazenda Morumbi, que foi desmembrada para a incorporação de condomínio. No entanto a construção não saiu do papel e famílias de baixa renda, principalmente emigrantes nordestinos atraídos pelos empregos na construção civil começaram a ocupação do local. Em 1970, a favela já possuía 20 mil moradores vivendo irregularmente, ao mesmo tempo em que novos condomínios de luxo se formavam ao redor. Muitos dos moradores de Paraisópolis trabalharam na construção desses edifícios e muitas das mulheres prestam serviços domésticos nas casas dessas famílias.

Hoje o local já conta com mais de 42 mil pessoas vivendo em situação de risco. Muitos despejos já ocorreram que culminam em confronto com a polícia. Já houve diversos casos de incêndio com suspeita criminosa, sem contar os problemas sociais como uso e tráfego de drogas, escolas precárias, e falta de saneamento básico em 78% das casas.

 

Thiago A. Morgan é estudante de graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas